Dentro da prisão, estudos são garantia de um futuro melhor para reeducandos.

Dentro da prisão, estudos são garantia de um futuro melhor para reeducandos.

Soliney Naiva
Há 9 anos
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Foto: Elias Oliveira

Foto: Elias Oliveira

Pagar pelo erro que cometeu perante a sociedade e cumprir a pena determinada pela Justiça é o dever de reeducandos em todo o Brasil. No Tocantins, a comunidade carcerária da Casa de Prisão Provisória de Palmas (CPPP) tem a oportunidade de dar continuidade aos estudos, mesmo durante o período de cumprimento de pena. Por meio de turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e do Programa Brasil Alfabetizado (PBA), 545 pessoas em situação de prisão têm a possibilidade de concluir as etapas da educação básica e de sonhar com um futuro melhor. Do total, 400 estão em aulas para jovens e adultos e outros 135, nas turmas de alfabetização.

A gerente da EJA e Educação Prisional da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), Ana Stella Rodrigues Ferreira, destacou que o principal desafio para a ressocialização dos reeducandos é a reincidência na criminalidade.

Para a técnica, é neste ponto que entra a educação para os internos das prisões. “Não tem como pensar em educação prisional sem entrar no mérito da redução dos índices de reincidência. Nós atribuímos à educação o papel de transformação da realidade, tanto para o mercado de trabalho, quanto para o sujeito atuante e crítico de seu mundo”, explicou.

Entre os reeducandos, a expectativa é que, por meio das aulas no Colégio Estadual Nova Geração, que fica dentro da CPP de Palmas, as oportunidades que eles não tiveram no passado, possam abrir portas no futuro fora dali.

Muitos têm sonhos de continuar estudando e, quem sabe, com muito esforço, cursar uma faculdade e dar uma vida melhor para as famílias que os aguardam.

Futuro

Durante um pequeno intervalo na aula de história, Uelton Gonçalves da Silva imagina como poderá ser a vida quando cumprir a pena que lhe resta. Para ele, que atribui a falta de oportunidades que teve anteriormente à sua ausência das salas de aula, a educação é uma importante aliada para a construção de um futuro melhor. “Esta é uma grande oportunidade que estamos tendo. Espero continuar estudando, fazer outros cursos quando sair. Lá fora, quero viver uma realidade completamente diferente”, disse.

Ainda receoso com a realidade que o espera do lado de fora da CPP, Charles Carvalho tem a consciência de que errou e que deve arcar com o erro cometido. Ele espera ter uma vida diferente da que tinha quando foi condenado. “Eu estava há 13 anos fora da escola. Agora estou tendo a oportunidade de concluir a EJA dentro do sistema carcerário. Meu objetivo é fazer um curso de Engenharia Civil e ter um futuro melhor”, falou.

Mesmo antes de participar das aulas de história, geografia e matemática, o simples fato de conseguir identificar as letras em uma sentença se torna uma grande vitória. Este é o caso dos reeducandos do Programa Brasil Alfabetizado, projeto que, no Tocantins, conta com um diferencial, que é o fato de os próprios detentos serem alfabetizadores dos demais internos. Aluno de uma destas turmas, Douglas Sousa da Silva disse sentir a diferença na hora de encarar uma folha repleta de letras. “Antes eu não conseguia nem escrever meu nome e hoje eu consigo. Para mim, a sensação é muito boa”, celebrou.

Outro lado

Se a conquista diária com os estudos tem sido um importante papel na ressocialização dos detentos da Casa de Prisão Provisória de Palmas, para os professores, a gratificação está em notar o diferencial que a educação proporciona tanto para eles, quanto para os alunos. Paulo Vicente é reeducando da CPP e atua como alfabetizador. Ele contou que o caminho da educação foi natural, pelas duas faculdades que chegou a cursar antes de ser preso.

Para o educador, a possibilidade de trabalhar com os colegas de carceragem tem sido um aprendizado diário. “Eu hoje me vejo inserido em um projeto maior que é o de dar oportunidade a quem antes não tinha. A grande maioria das pessoas que está lá dentro não teve a possibilidade de estudar; são poucos que têm algum nível de escolaridade e ver os alunos saindo do Brasil Alfabetizado para a RPL (Ressocialização Pela Leitura – outra etapa no processo de educação) é muito gratificante”, completou.

Maurício Alves de Oliveira também é reeducando e contou que está no projeto de educação prisional desde o início. Ele comentou que conseguiu completar o ensino médio nas aulas da EJA dentro da CPP e agora é um dos educadores do PBA. Mesmo enfrentando muitas dificuldades, Maurício destacou que o trabalho de alfabetizar os outros detentos vale a pena. “Mesmo com todas as dificuldades a gente reúne força e põe o projeto para frente. Em tudo na nossa vida, se não tivermos estudos, não somos nada. Eu espero sair daqui e poder voltar para a minha família e cursar faculdade de Agronomia”, afirmou.

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