Gurupi-TO: Jornalista acusa presidente da Câmara de fazer ameaças por causa de artigo

Gurupi-TO: Jornalista acusa presidente da Câmara de fazer ameaças por causa de artigo

Edson Fonseca
Há 8 anos
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wesleysilas400x300O editor do Portal Atitude, o jornalista Wesley Silas, recebeu uma ligação inflamada do presidente da Câmara de Gurupi, Wendel Gomides (PDT), após abrir espaço em seu veículo para publicação de artigo que criticava a postura do pedetista diante da pressão popular pela aprovação de Projeto de Lei que retira benefícios dos legisladores. Ao CT, o jornalista relata ter sido xingado, intimidado e ameaçado pelo também é policial civil. O vereador admitiu que se exaltou, mas negou ter intimidado ou feito qualquer tipo de ameaça.Wesley Silas afirma ter recebido o telefonema por volta das 12 horas desta quarta-feira, 30, e que o presidente da Câmara de Gurupi estava bastante exaltado. “Abri espaço para opinião de um jornalista e ele não aceitou”, conta o editor do Portal Atitude. O texto que teria sido questionado pelo vereador foi assinado por Emílio Lopes e tem como título: “Wendel Gomides e o desprezo ao clamor popular: Cinismo ou mesquinhez dupla?”, publicado horas antes da ligação.

O editor do veículo alega ter explicado que o texto não era de sua autoria e que apenas abriu espaço para a opinião do leitor sobre o trâmite da matéria que quer reduzir os benefícios dos vereadores, proposta por um grupo denominado “Participa Gurupi”. Wesley Silas acrescentou ao CT que sequer faz parte do coletivo, mas apenas cobre sua atuação. “Ele [Wendel Gomides] é muito autoritário, não aceita manifestações. Inclusive deu ordem de prisão contra um professor”, disse o jornalista sobre uma manifestação no dia 23 de novembro na Câmara pela aprovação do Projeto de Lei.

Wesley Silas gravou a ligação e disponibilizou parte do áudio em uma publicação no Portal Atitude. “Ele xingou, ameaçou, disse que queria me encontrar na Câmara, chamando para resolver o problema de homem para homem”, contou o jornalista, que acrescenta temer um pouco alguma represália. “É um cara que é policial civil, presidente da Câmara, já foi diretor do presídio de Gurupi, a gente fica temeroso”, afirmou. O editor conta ter recebido uma ligação do titular da SSP, César Simoni, que lhe garantiu a abertura de um inquérito para apurar o caso.

Boletim de Ocorrência e notas
Após o episódio, Wesley Silas fez boletim de ocorrência e também denunciou o caso ao Ministério Público. O Sindicato dos Jornalistas do Tocantins (Sindjor) se manifestou em nota sobre o caso. “O jornalista é um trabalhador como qualquer outro e não deve ser ameaçado por realizar o trabalho de levar informação a comunidade. O Tocantins tem um histórico de ataques, intimidações, xingamentos entre outras atitudes com estes profissionais, atitude que classificamos como condenável”, discorre. Associação Comercial e Industrial de Gurupi também se manifestou.

O editor do Portal Atitude disse ainda que o caso “assusta”. “Ele é um representante do povo e ao mesmo tempo um policial civil. Devia defender a segurança, a integridade da pessoa, mas está fazendo ao contrário. Uma intimidação desta é triste, é lamentável. Apesar de tudo, da gravidade do fato, isto não intimida a gente a continuar trabalhando e exercer nosso papel de informar a comunidade. Nós só queremos que o sistema da segurança pública garanta nossa integridade para que possamos exercer nossa profissão”, concluiu.

Sem ameaças
O CT  também conversou com o presidente da Câmara, Wendel Gomides (PDT), que apesar de admitir destempero, negou que tenha feito qualquer tipo de ameaça ao editor do Portal Atitude. “Todo ser humano é passível de acerto e erros. Então acabei falando de cabeça quente, mas de maneira alguma reagi com briga ou ameacei. A gente pode discutir e depois de algumas horas estar tomando um café com uma pessoa. Ele está partindo para um lado pessoal”, afirmou. A Casa de Leis de Gurupi também soltou nota sobre o assunto.


Confira a íntegra da nota da Câmara de Gurupi, SSP e do Sindjor:
De acordo com o vereador, a chateação com o veículo já vem há algum tempo, principalmente após a tramitação da matéria, que na prática, reduz o salário dos legisladores de Gurupi e encerra com a locação de veículos e os valores destinados para gasolina. “Ele está acompanhando o projeto de origem popular, mas tem aqueles trâmites. Tem que ter 5% do eleitorado dos município [assinaturas], tenho que fazer essa checagem, depois vou encaminhar para as comissões. Mesmo seguindo este trâmite legal, o Silas está postando como eu sendo xerife, como uma pessoa sendo antidemocrática”, comenta.

Entre as publicações de Wesley Silas questionadas, Wendel Gomides cita uma em que o jornalista teria afirmado que o presidente da Casa negociou com os vereadores eleitos da Câmara a manutenção da sua presença na Mesa Diretora em troca de segurar o projeto popular. O pedetista disse ao CT que chegou a ultimar o editor do Portal Atitude a comprovar a tese, e se conseguisse, renunciaria. “Só quero que seja imparcial”, disse.

Seguindo nesta tônica que Wendel Gomides citou o artigo como Emílio Lopes publicado no Portal Atitude como “a gota d’água”. “Isso é uma coisa que faz parte, acontece. O Silas vem criando estas situações faz tempo, conversei por várias vezes. Não o ameacei de forma alguma, não precisa ir ao Ministério Público, pedir proteção policial, porque não sou uma pessoa violenta. Ele tem que ser imparcial. É algo que venho sendo vítima e passei a ser o vilão”, afirmou.

Por fim, Wendel Gomides minimizou o caso e não demonstrou preocupação, garantindo ao CT que vai responder qualquer processo dentro do ambiente legal. “Estou bem tranquilo. Não houve nenhuma ameaça, e quando não há ameaça, não tem crime. Uma coisa que não tem que tomar essa repercussão toda. Somos adultos, eu me excedi um pouco, mas faz parte. Isso tem que resolver entre nós dois”, concluiu o presidente da Casa, que garantiu que o Projeto de Lei de iniciativa popular será lido em sessão extraordinária na sexta-feira, 2, e encaminhada às comissões.

Caso será apurado
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que a 3ª Delegacia Regional de Polícia Civil de Gurupi está tomando as providências relacionadas ao caso por meio de um procedimento investigativo criminal. Já a Corregedoria Geral da corporação irá apurar conduta do presidente da Câmara como policial.

“NOTA DE ESCLARECIMENTO

O presidente da Câmara de Vereadores de Gurupi, Wendel Gomides, esclarece que desde quando o projeto de lei de iniciativa popular foi protocolado foram realizados os encaminhamentos necessários conforme o Regimento Interno no sentindo de garantir a legalidade, no entanto, desde então, esta Casa vem sofrendo ataques difamatórios sobre o andamento dessa matéria.

A presidência dessa Casa tem sido vítima de ataques por parte de alguns profissionais da imprensa que inclusive tem afirmado em textos jornalísticos que a cadeira de presidente estaria sendo negociada, o que não é verdade. O presidente esclarece ainda que nesse momento está preocupado em terminar o seu mandato e planejar o próximo, uma vez que foi reconduzido ao cargo com expressiva votação, e destaca que a eleição da Mesa Diretora será discutida em momento oportuno e dentro da normalidade do processo.

O presidente reconhece o importante papel da imprensa, mas lamenta que alguns veículos de comunicação realizem um trabalho sem ouvir os dois lados, expondo textos apenas com base em especulações.

Wendel Gomides é policial civil desde 2003, sendo que assumiu os cargos de diretor da Casa de Prisão Provisória de Gurupi (CPP) e do Centro de Reeducandos Luz do Amanhã e nunca respondeu a nenhum processo administrativo disciplinar e nem criminal por abuso de autoridade, inclusive, quando assumiu o cargo no Luz do Amanhã foi com o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e dos Direitos Humanos.

Gurupi, 1º de dezembro de 2016.
Assessoria de Imprensa”

Nota à imprensa 

A Secretaria da Segurança Pública, (SSP), por meio da 3ª Delegacia Regional de Polícia Civil de Gurupi, informa que todas as providências relacionadas ao fato que envolve supostas ameaças feitas pelo presidente da Câmara de Vereadores a um jornalista daquela cidade, estão sendo tomadas no sentido de esclarecer o episódio o mais rapidamente possível.

A SSP esclarece ainda que está sendo aberto um procedimento investigativo criminal, o qual será conduzido pela 3ª DRPC, bem como um procedimento administrativo, junto a Corregedoria Geral da Polícia Civil, com o objetivo de apurar a conduta do policial civil mencionado.”

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